Lucão, o anjo caído. Personagem da semana
Menon
15/02/2016 09h46
Amigos,
Os dois nomes mais fortes eram Romero e Lucão. Romero, o atacante de cabelo estranho e que já fez quatro gols em 2016, depois de um ano ruim. Faria alguma menção a seu nome, Ángel. Um anjo paraguaio. Lucão, por voltar à Itaquera após ser destaque negativo nos 6 a 1. A pressão sofrida por ele até sua ressurreição, com uma bela partida, talvez um gol.
E houve, então uma simbiose. Romero jogou alguns minutos e Lucão não conseguiu terminar de forma feliz sua segunda chance. Foi desastroso. Ficou com o apelido que havia designado a Romero. Um anjo.
Um anjo caído.
Os anjos caídos eram aqueles que, em busca de poder, se entregavam às trevas e ao pecado. Caíam do Céu ao Inferno. Lúcifer foi o mais importante deles.
Lucão foi do céu ao inferno não por amor ao poder. Não é arrogante, não tenta jogar bonito, não é expulso toda hora… Apenas tem cometido erros e erros. E, pior, alguns deles, erros marcantes em Itaquera, contra o rival odiado pelos são-paulinos.
Há outros, é lógico. Os números são cruéis. O São Paulo sofreu quatro gols em 2016 e ele participou de três: o pênalti infantil contra o Red Bull, quando recém havia entrado em campo, o passe para Lucca e a falta de atenção no gol de Iago. Para mim, este foi o pior, por mostrar um modus operandi. Já havia sido assim no ano passado, contra Romero.
E, se o Inferno está bem explícito, quando mesmo foi o Céu de Lucão?
É preciso voltar um pouco no tempo. Em 2013, ele era uma das mais fulgurantes estrelas da constelação nascida em 96, campeã da Copa do Brasil sub-17. O time que venceu a final contra o Flamengo tinha Eder, Auro, Lucas Silva (ele, Lucão), Lucas Kal e Gabriel, Hebling, Araruna, Queiroz e Boschilia, Ewandro e João Paulo. Luiz Araújo era reserva. Joanderson, contundido, não jogou a final.
Hebling e Boschilia estão na Europa, Auro e João Paulo no limbo do profissional, Ewandro no Furacão e Kal, Araruna e Queiróz e Luiz Araújo ganharam a Libertadores na noite do mesmo domingo que, em sua tarde, viu a derrocada de Lucão.
Ele subiu para o profissional antes dos outros. No Paulistão de 2015, Muricy não inscreveu Antônio Carlos para que Lucão pudesse brilhar. Sua fama era tanta – capitão das seleções de base – que houve uma batalha pela renovação do contrato. O São Paulo cedeu, apostando em uma transação futura para a Europa. Havia mercado. Ainda há.
O "céu" de Lucão sempre foi o futuro. Um futuro que nunca se materializou. Culpa de uma transição mal feita? Precipitada? Deveria estar ainda na base? Ou a verdade é que ele será apenas uma promessa não cumprida. Apesar de haver feito alguns bons jogos – dois passes espetaculares na vitória sobre o Coritiba – nunca foi o que se esperava.
É cruel usar o verbo no passado, quando se fala de alguém com 20 anos, mas a verdade é que Lucão, hoje, é um currículo em busca de um futebol que justifique tantos elogios passados.
Talvez devesse ser concluído o desterro. Buscar um outro lugar, reestruturar sua carreira, dar a volta por cima e retornar como o filho pródigo.
Pode ser, mas hoje ele é apenas um anjo caído. Do céu ao chão de Itaquera.
Sobre o Autor
Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.