"EI não teve coragem de peitar a Globo na hora H", diz Ataíde Gil Guerreiro
Menon
26/02/2016 06h07
Às 19h da terça-feira, dia 23, Ataíde Gil Guerreiro ligou para Bernardo Ramalho, diretor do Esporte Interativo. Faltava meia hora para o início da reunião do Conselho Deliberativo do São Paulo, que analisaria a proposta da Rede Globo de Televisão para os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro a partir de 2019.
A conversa foi em tom dramático. Ataíde pediu que Ramalho aumentasse de R$ 40 milhões para R$ 60 milhões a oferta de luvas para que o São Paulo assinasse os direitos de transmissão para televisão fechada. "Nunca poderia dizer a ele qual era a oferta da Globo, mas deixei claro que, se ele chegasse aos R$ 60 milhões, teria condições de brigar e eu transmitiria aos conselheiros. Bernardo não abriu mão. Não sei se ele não acreditou na minha palavra ou pensou que eu estivesse blefando".
Que blefe seria esse? Desde o início das negociações, a Globo foi intransigente em não abrir os valores das três plataformas separadamente: televisão aberta, televisão fechada e pay per view. Falava em um total de R$ 1,1 bilhão. "Nós negociamos duramente e eles abriram as plataformas. Então, a briga foi para aumentar o valor para a televisão fechada. A Globo oferecia R$ 100 milhões e conseguimos aumentar para R$ 500 milhões, o mesmo que o Esporte Interativo oferecia, mas com luvas maiores. Foi isso que eu falei para o Bernardo, sem citar os números claramente. Ele duvidou que eu tivesse conseguido que a Globo abrisse as plataformas e não peitou. Faltou coragem. Eu queria assinar com eles, porque sou contra o monopólio da Globo, aliás, sou contra todo monopólio, em qualquer atividade econômica".
Para Ataíde, a Globo sempre leva vantagem por falta de agressividade dos concorrentes. Sentiu isso na pele, na última negociação. Ele era o negociador do Clube dos 13 e no momento da decisão se viu abandonado pela TV Record, que nem fez proposta. O que veio foi da Rede TV, facilmente batida pela Globo.
O diretor do São Paulo tem um modo duro de tratar a primeira proposta recebida pelo clube. "A Globo veio com uma proposta indecorosa. Uma vergonha. Propuseram 25% de redução nos valores atuais e um adiantamento de R$ 40 milhões a serem pagos com juros e correção monetária. Não sei como o Corinthians e outros clubes tiveram coragem de aceitar isso. Nos brigamos muito e a oferta evoluiu bastante".
A negociação para a TV aberta ficou para 2019. Muita gente vê a Globo com a faca e o queijo na mão. Ou, melhor, com a faca na mão. E o São Paulo, apenas com o pescoço. Como não há concorrência, ela poderia ofertar algo mínimo, quase simbólico. É lógico que poderia haver intervenção do CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), mas Ataíde não fala nisso.
"Agora, não tem concorrência, mas quem garante que não pode haver em 2019? As coisas mudam. Até lá, estaremos mais fortes. Agora, temos uma bandeira para mostrar aos outros clubes. Foi possível negociar bem, todos podem. Vamos nos preparar para esse momento", afirma.
No processo de negociação com a Globo, Ataíde sofreu muitas pressões por puxar a corda até o final. "Ficamos sem dinheiro e houve atraso de salári0s, jogadores falaram até em greve de silêncio. Mas agora, mudou. Temos R$ 60 milhões na mão. Até segunda, pagamos a dívida de R$ 2 milhões com os jogadores e vamos usar o resto para pagar outros compromissos. As coisas estão entrando no eixo".
Sobre o Autor
Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.