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Carmona comemora 80 anos, lança livro e critica escravidão de jogadores

Menon

17/05/2016 16h09

Roberto Carmona completou 80 anos em março. Tem 53 anos de carreira e lançará, em julho, sua biografia – escrito pelo jornalista Cristiano Silva – contando tudo o que viveu. "Mais do que isso, é um legado. Um garoto quiser abraçar a profissão de repórter terá muito que aprender ali, aprendendo com alguém que conviveu com Pelé, Ayrton Senna e outras lendas do esporte brasileiro", diz Cristiano.

E tudo começou com um murro de Noca em Brasil Filho.

Noca, lateral esquerdo muito forte, chegou à livraria de Arapongas, naquela segunda feira de 1957, com sede de vingança. Ele, que já havia jogado no Santos, não mereceria ser humilhado por críticas de um caipira qualquer. No íntimo, até reconhecia que, no dia anterior, sua estreia havia sido um fracasso. Aquele pequenino ponta direita do Mandaguari passou por ele tantas vezes quis. Do jeito que quis. Fez três gols.

Tudo bem, mas o narrador não precisava dizer que ele estava acabado, que bebia muito, que vivia na zona. Foi pensando nisso que Noca caminhou até onde Brasil Filho, o pequenino, se vangloriava. Deu-lhe um murro e quebrou o nariz. Mais um e lá se foram dois dentes.

Não se sabe se Noca esteve em campo no jogo seguinte. Mas Brasil Filho foi para o hospital. E ali ficou por 40 dias. O diretor da rádio ficou desesperado. Sem o profissional que havia trazido de Garça, como faria para narrar os jogos do Arapongas?
Lembrou-se então que havia dois garotos que trabalhavam no escritório de contabilidade do Coelho e que passavam horas transmitindo futebol em latinhas de massa de tomate. Um deles, era Laerte Riachinho, que, além de dublê de narrador, formava dupla caipira com o irmão. Cantavam todo domingo na rádio. O outro era Roberto Carmona.

O convite foi aceito e ambos estrearam no segundo jogo. Cada um narrava um lado do campo. Um, no ataque do Arapongas. Outro, na defesa. Ambos imitavam os narradores da Radio Nacional, do Rio: Jorge Curi e Edson Codeiro.

Foi assim por 40 dias, até que Brasil Filho se recuperou. Mas não quis narrar mais. Preferiu virar comentarista. Então, Carmona, que era fã do repórter Luiz Aguiar, da Rádio Bandeirantes, de São Paulo, sugeriu que Laerte ficasse com a narração e que ele ficasse com as reportagens.

Começou assim a carreira.

Naquela época, radialista não era benquisto. Dona Luzia, a sogra de Carmona, perguntava dia sim e dia não porque ele continuava no rádio. E ele respondia: "eu peço para sair e eles pedem para que eu continue".  Era repórter, apresentador das atrações no clube, fazia tudo. Tudo de graça.

Resolveu mudar. Em 1963, veio a São Paulo buscar a transferência de dois jogadores que o Arapongas havia contratado. Ficou na casa de uma tia e aproveitou para procurar emprego. Arrumou, com facilidade. Arrumou apartamento também. Tinha de buscar a famíia e começar outra vida, longe do rádio.

Fez tudo nos conformes e foi trabalhar. Começou dia 7 de agosto de 1963

Até que…

Até que foi à Mooca, em um sábado. Ver o Juventus jogar contra a Prudentina. De saída do banheiro, encontrou-se com Joseval Peixoto, amigo de infância, de Arapongas. Um dos grandes da época, Joseval havia deixado a Bandeirantes para montar uma nova equipe na Rádio Record. Havia uma vaga para repórter, pois Luis Augusto Maltone havia desistido da mudança.

Carmona fez um teste na quarta feira seguinte, assinou contrato de três meses, agradou. E trocou a contabilidade pelo rádio esportivo.

O livro vai contar toda a história de Carmona. Por isso, vou terminar o post falando do presente. De sua visão do futebol, que eu considero muito correta.

"No Brasil de hoje, jogador virou escravo de empresário. Era escravo de time e virou escravo de empresário. Eles dominam o futebol, dominam jogadores com dez anos para Europa para morrer de fome. Poucos tem sucesso.

No campo, o 7 x 1 contra a Alemanha, foi um acaso. Fora do campo é que a diferença é maior. Sou contra a Lei do Passe, mas tem de rever a situação atual.

A CBF precisa ter treinadores competentes nas equipes de base. Pagar bem para que se tenha reposição em casa. Jogadores da Europa são milionários, não tem relação com a torcida. Precisa ter uma seleção permanente de jovens, jogar uma vez por mês no Brasil. Vai dando status ao jogador e vai fazer com que a seleção ganhe amor e identificação com o público."

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Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.


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