Tite precisa gritar sua revolta contra as organizadas
Menon
25/05/2016 11h35
O desconforto vem de longe. Quando o Corinthians foi eliminado pelo Nacional, Tite reclamou abertamente, em entrevistas, da atitude de três torcedores que ofenderam os jogadores. Fazendo questão de não confundi-los com a totalidade da torcida corintiana, Tite faltou bem alto e grosso às câmeras de televisão. "Aqui não tem vagabundo, não".
Em relação à conversa forçada, Tite chegou a questionar os jornalistas se a divulgação do fato não estaria dando força a esse tipo de comportamento. Não seria o caso de não publicar nada a respeito? Perguntou com calma e educação. Não afirmava nada. Colocou apenas um ponto em questão. Os jornalistas disseram que estavam cumprindo o seu papel. Que o fato havia acontecido. Que eles tiveram ciência dele e que seria desonesto não publicar. Lembraram também que a diretoria do clube havia feito de tudo para que nada fosse divulgado. Cumpriram o receituário de quem deseja enganar: encobriram o fato, desmentiram o fato e ao serem pegos com as calças nas mãos, admitiram o fato.
Tite faria muito bem se transformasse seu sussurro em um grito de indignação. Poucos, no Brasil, tem sua estatura e respeito para colocar essa questão no dia a dia dos brasileiros. Até quando um trabalhador é obrigado a escutar cobranças – que muitas vezes se transforma em violência – de pessoas geralmente desocupadas.
Cobranças são matutinas ou vespertinas;
Como esses cobradores conseguem licença do trabalho para irem até o clube? Que patrão aceita a seguinte justificativa: "por favor, preciso faltar porque tenho de ir ao Corinthians manter um diálogo de alto nível com os jogadores, que, a meu ver, estão tendo um rendimento esportivo e atlético abaixo das expectativas da grande massa de torcedores corintianos? Afinal, o senhor sabe, todo time tem uma torcida, mas a torcida do Corinthians é que tem um time?"
Grita, Tite. Um grito seu é tão importante para o futebol brasileiro quanto os títulos que você conquistou.
Sobre o Autor
Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.