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Alecsandro, vítima dos justiceiros, culpado com base em provas inválidas

Menon

20/09/2016 13h35

A casa de minha avó, Stela Stefanini Bacci, em Casa Branca, era muito grande. E gostosa. No quintal, havia muito "pé de fruta" –

Conselheiro Acácio, personagem de O Primo Basílio, de Eça de Queiroz

mangueira e jaboticabeira – e dentro, muitos livros. A biblioteca de Pércio Bacci. Dostoievski, Jorge Amado, Graciliano Ramos – meu escritor preferido – e Eça de Queiroz. Gostei muito de Os Maias e A cidade e as Serras. E O Primo Basílio, do Conselheiro Acácio.

Conselheiro Acácio, me perdoem, era uma rematada besta. Vivia a citar provérbios e curiosidades, vindas de seus apontamentos. Com ar circunspecto, falava platitudes com voz grave, dando a elas uma importância inexistente. Clichês e mais clichês.

Frases acacianas poderiam ser?

O doping é terrível. Ajuda um atleta a vencer, mesmo com prejuízo futuro para seu corpo.

Na democracia, cabe ao acusador o ônus da prova. Melhor, ainda, Conselheiro Acácio recorreria ao latim: "in dúbio, pro reu"

Simples, não é?

No Brasil, há pessoas sofrendo com a falta de "acacianismo". Condenações sem provas.

Como é o caso do Alecsandro.

O TJD-SP o condenou a dois anos de suspensão por uso de substância proibida. Dois anos são 10% da vida útil de um jogador de futebol. Como Alecsandro Barbosa Felisbino tem 35 anos, dois anos de suspensão significaria praticamente o fim de sua carreira. É muito difícil um jogador de 37 anos jogar em sua plenitude técnica e física, depois de dois anos parado.

O Palmeiras defendeu seu atacante dizendo que a substância química encontrada foi derivada de outra substância, esta sim permitida. A tese não foi aceita. O jogador recorreu à WADA – Agência Mundial Antidoping – ligada ao Comitê Olimpico Internacional. A mesma agencia que, de forma extremamente rigorosa, praticamente baniu o atletismo russo da Olimpíada do Rio. Precipitou, por exemplo, o final da carreira de Yelena Isinbaieva que, mesmo limpa e sem nenhuma acusação, se viu obrigada a fazer novos testes. Recusou.

Pois bem. A WADA aceitou a tese do Palmeiras e de Alecsandro. A WADA comunicou o fato à CBF e o Palmeiras entrou com um efeito suspensivo enquanto espera novo julgamento no TJD.

Eu não vou avalizar a WADA ou o TJD. Não entendo nada disso. Sou a favor de penas graves para os que se dopam. Mas o meu ponto é o seguinte: por que o TJD não entrou em contato com a WADA? Buscou informações sobre casos mais recentes? Ou julgou baseado no que sabia, não querendo ampliar seus horizontes?

E quem vai reparar as perdas de Alecsandro? Estava jogando muito bem e agora, pelo que se vê, está atrás de Leandro Banana e de Barrios na preferência de Cuca. Artilheiro vive de gols e Alecsandro estava cumprindo sua tarefa, além de fazer algumas outras boas jogadas, com bons passes e boa mobilidade. Parou, perdeu a forma? Perdeu a posição? E a imagem do jogador, como fica? "Ah, Alecsandro, aquele que se dopou e depois conseguiu mudar a pena na Europa. No Brasil, sempre tem um jeitinho…."

Não se pode condenar sem provas, diria o Conselheiro Acácio.

Não se pode condenar com provas que não se sustentam, diríamos todos nós, cidadãos que acreditamos em justiça e não em justiçamento. Em juízes e não em justiceiros.

 

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Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.


Menon