Gabriel Jesus precisa ser humilde e ouvir Leandro Donizete
Menon
19/11/2016 10h39
É possível aprender sempre, mesmo quando as palavras vêm de alguém que consideramos inferior. E, sem nenhuma ofensa, Leandro Donizete é inferior a Gabriel Jesus. São de estirpe diferente. Gabriel entra em campo para jogar, para produzir. Leandro Donizete adentra ao gramado (boa, essa) para impedir jogadas dos mais talentosos.
E há lugar para os dois tipos. Muitos jogadores do tipo Leandro Donizete estão inscrustados na ternura e na sinceridade do nosso cantinho da saudade (obrigado, Fiori). O Palmeiras acaba de inaugurar uma estátua merecidíssima a Dudu. E o que foi Dudu, amigos? Foi o lado menos nobre da parceria com Ademir da Guia. O lado reativo. Ademir produzia e Dudu impedia os rivais de produzirem. Dudu carregava o piano. Dudu nunca foi chamado de Divino. Mas alguém vai questionar a estátua.
Dudu pode ter jogado muito mais que Leandro Donizete, mas pertencem à mesma estirpe de jogadores. E há muitos outros que estão na lembrança dos torcedores. O são-paulino gosta tanto de Chicão como gosta de Pedro Rocha e Muricy. Zito carregou o piano para Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. Tião foi o parceiro "sujo" de Rivelino.
O maior de todos foi Clodoaldo. Este não pode ser chamado de carregador de piano. Ele tocava também. E sua banda tinha Jairzinho, Gerson, Tostão, Pelé e Rivelino. Clodoaldo, o bambino d´oro (inventei agora só para não falar Golden boy, afinal tenho de manter a minha fama de mau), o volante que aplicou uma série de dribles na final contra a Itália, que fez o gol salvador contra o Uruguai…
Não existe um time com onze Pelés, muito menos com onze Gabriéis. Todos são importantes. Por isso, a briga entre Gabriel Jesus e Leandro Donizete, um jogador muito abaixo do garoto palmeirense, não pode ser impeditivo para que a nova joia do futebol brasileiro feche os ouvidos para o conselho, que pode até ter vindo com ironia ou inveja. "Quero ver reclamar na Inglaterra. Ficar reclamando para a imprensa".
E é verdade. Na Inglaterra, há uma predisposição muito menor (comparado com o Brasil) a se proteger o craque. A achar que o garoto está certo e o outro é um malvado. Porque a Inglaterra joga futebol diferente do Brasil. O estilo é diferente. Os heróis são diferentes. Bobby Charlton foi um craque e, a meu gosto, há poucos outros na história do futebol de Sua Majestade. Lá, há mais Leandro Donizete do que Gabriel Jesus. E Leandro Donizete não passa de uma baby sitter perto de Nobby "The Butcher" Stiles.
E o fato é que, se Leandro Donizete é violento, Gabriel Jesus é chato. Muito chato. Reclama de tudo, a toda hora. Todo close da televisão mostra o rosto de um garoto à beira do choro. E cai muito. No mesmo estilo de Neymar. Cai, cai e cai. Então, quando é realmente derrubado, fica a dúvida no ar. E é um guerreiro. Encarador. Chora, reclama, cai e não foge do pau.
A carreira de Gabriel será grandiosa. Na Inglaterra, na Alemanha, na Itália ou Espanha. E a grandiosidade será alcançada mais cedo se ouvir o conselho (por vias tortas) de Leandro Donizete: jogar mais, encarar mais e chorar menos. E eu, que jogo ainda pior que o Leandro Donizete, acrescento: parar de cair.
Sobre o Autor
Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.