Tudo caminha para que a lógica prevaleça. Rogério Ceni (em uma bela caricatura de Maurício Freitas) começará sua carreira de treinador no clube que  tem como maior ídolo da história. O seu clube. O São Paulo Futebol Clube.

Ele fez de tudo para ser o escolhido. Deixou claro ao presidente Leco que gostaria de assumir o posto. Deixou claro até demais, ao dar uma entrevista na Espanha e dizer que estava fazendo curso de treinador para dirigir o "seu clube".

Não vejo arrogância ou falta de ética na entrevista. Em deixar claro que deseja o emprego de outro. O outro que o treinou e que o teve como capitão. Talvez uma precipitação, falta de tato, mas o certo é que o recado foi dado.

Recado ouvido. E como dizer não ao maior ídolo da história do clube? Propor que ele fique na base, propor que ele seja auxiliar de alguém? Com dez minutos do primeiro jogo, esse alguém ouviria: "Puta que pariu, é o melhor treinador do Brasil….Rogério".

Rogério está sendo muito corajoso ao assumir o São Paulo. Uma coragem que Zico não teve. Que Pelé não teve, que Raí não teve. Enfim, um ato de humildade de Ceni. Ele, ao assumir o São Paulo, coloca em risco grande parte do que conseguiu em 20 anos. Se não der certo, quando alguém disser Rogério Ceni, o Mito, o homem de mil jogos, o homem de 100 gols, o grande capitão, terá também de dizer infelizmente não deu certo como treinador.

A seu favor nesta luta, Ceni tem muita coisa, além da identificação com o clube. Tem conhecimento de futebol. Aprimorou os conhecimentos com cursos na Europa. E assumirá o cargo do zero. Ou seja, no início do ano, podendo indicar jogadores e montando sua própria equipe de auxiliares. E assume um time muito ruim. Muito. Será muito difícil conseguir números tão ruins quanto os de Ricardo Gomes ou Edgardo Bauza. Ele assume um time reprovado. Um gigante com menos de 50% de aproveitamento.

Como será o fim da história? Rogério Ceni levará o clube a um título, libertando-o deste período tão ruim? Ou o clube será seu refém pelos dois anos de contrato, como foi refém durante os seus últimos dois anos como goleiro.

Por que, amigos, contratar Rogério Ceni é fácil. Até ajuda na eleição. Mas demitir Rogério Ceni é duro. Quem o fizer sofrerá maldição eterna, jurada na Igreja Católica, nas Igrejas Evangélicas e nos terreiros.