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Cacá Bizzochi responde meu texto: "Eu não gosto de vôlei"

Menon

09/07/2017 23h56

 

Caro Menon,

Em seu post de hoje, você despertou uma boa dose de ira dos apaixonados pelo vôlei. No papel de comentarista e técnico do esporte, acho-me no direito de entrar na discussão, não para atacá-lo – como alguns fizeram –, afinal defenderei sempre o direito à opinião e à expressão das preferências particulares, sejam elas quais forem.

Mas ultimamente as pessoas têm se valido de justificativas apressadas para fundamentar seus desgostos. Pela pouca familiaridade com o objeto de desagrado, acabam sendo superficiais e equivocados. Vou me ater a pontos que considero pouco plausíveis em sua busca por tentar explicar porque não gosta de vôlei e me abster de comentar outros que se referem a opiniões e pontos de vista próprios.

Primeiramente, o fato de o vôlei ter campeonato todo ano. A Liga Mundial é talvez o quarto torneio entre seleções em importância no calendário internacional, por isso é anual. Antes dela, há os Jogos Olímpicos, o Campeonato Mundial e a Copa do Mundo, que ocorrem a cada quatro anos, como todas as modalidades competitivas, e são muito mais valorizados que os anuais ou os bianuais.

Você considera-o um "esporte com princípios muito simples" e elenca saque, recepção e bloqueio como se fossem os únicos elementos de jogo. Caro Menon, é muito mais que isso. A dinâmica se repete, sim, mas de forma muito mais rica do que sua economia de palavras faz supor. Ataques, contra-ataques, proteções de ataque, recuperações em acrobacias mirabolantes, bloqueios que fazem o ponto e que amortecem o ataque para novas defesas e contra-ataques fazem uma partida de vôlei ser tão especial e peculiar.

Nessa sucessão de ações, intercalam-se os levantamentos. Justamente o ponto alto da técnica do "drible", que, no voleibol, você subestima em seu texto. Um terço das ações de um rali é composto por levantamentos mágicos, que requerem alta dose de inteligência cinestésico-motora por parte dos levantadores. Esses são craques, são geniais na arte do drible. Às vezes fintam três bloqueadores de uma só vez. São Pelés diante de Mazurkiewcz. Os atacantes também fintam, ao preferir uma largada em vez de uma cortada a 120m/h; assim como os sacadores, mudando o gesto motor no último décimo de segundo e fazendo um torpedo virar uma mosca oscilante que cai diante de um passador imóvel. O jogador de voleibol precisa pensar o tempo todo e agir imediatamente.

Imediatamente, caro Menon, porque o voleibol não permite a retenção da bola e isso o torna tão exigente. Por este simples detalhe, os gigantes do vôlei precisam, diferente do que você defende, serem tão ágeis quanto os basqueteiros. Logicamente, cada um em sua modalidade, como bem cabe a um analista esportivo ponderar. Não fosse o gigante Muszersky, de 2m17, habilidoso e ágil, a Rússia não teria ganhado a medalha de ouro em Londres-2012. Atuando em outra posição com exigências tão diferentes da que ele vinha jogando até o terceiro set, a medalha de prata não se tornaria dourada não fosse ele tão capaz.

Um dos maiores equívocos de seu texto é afirmar que no vôlei é possível criar jogadores com base em movimentos repetitivos, para um deles "entrar de vez em quando para aumentar a rede". Caro Menon, o voleibol é o esporte mais difícil de ensinado e de ser aprendido. Não se ensina ninguém a jogar vôlei com excelência em, no mínimo, menos de seis anos, nem sem muita repetição – é o princípio do processo de ensino-aprendizagem. Aliás, como toda a formação de qualquer esporte quando se deseja levar o indivíduo à excelência.

Ironicamente você afirma que o vôlei se acha um esporte de massa, mas não é. Nenhum é, a não ser o futebol. Ao promover jogos em estádios de futebol, a intenção é colocar 23 mil pessoas onde cabem 42 mil, sim. Muito mais do que os 15 mil que caberiam nos maiores ginásios que temos. Só isso. Por saber seu lugar, o voleibol se sustenta como um esporte popular, sim, que consegue mobilizar 23 mil pessoas de madrugada e sob uma temperatura de 10 graus centígrados.

O voleibol não é protegido pela mídia, ao contrário. Ele é ignorado e ironizado pela grande mídia. Há quase 30 anos estamos entre os melhores do mundo no masculino, no feminino e na praia. Nas últimas décadas foram mais de 90% de pódios. Quais países conseguiram isso em qualquer esporte? E quando o Brasil fica em segundo lugar, ainda chamam a equipe de amarelona ou toda a geração de perdedora.

 

Enfim, caro Menon, é seu direito não gostar de vôlei, de rapadura ou dos filmes do Almodóvar. Mas você pode simplesmente dizer que não gosta, sem usar justificativas desnecessárias e desconexas. Aliás, para quem não gosta de vôlei, o horário de postagem do seu texto – 1h51 de hoje – indica que você ficou até de madrugada assistindo a algo que não aprecia… Eu não me daria a este trabalho, caro Menon

RESPOSTA

Obrigado, professor pela atenção e educação. Adoro Almodóvar e não gosto de rapadura.

Espero sua opinião sobre a entrega do jogo, que considero um ato antiesportivo. Abraço

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Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.


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