Há vida, amado Abel. Há vida, ávido Alan
Menon
09/08/2017 10h22
Por onde anda, Alan Ruschel é precedido por solidariedade e incredibilidade. Ele, um mortal comum como todos nós, como bilhões de outros habitantes do planeta, tem seu nome imediatamente ligado ao de Deus. Foi Deus, acreditam os crentes, que fez com que a lei das probabilidades fosse totalmente rompida e rasgada. Ruschel, como Neto e Follman, sobreviveu à queda de um avião. Difícil crer. Ruschel, Neto e Follman, ainda pela visão dos que creem, ganharam uma nova vida.
Para Abel, o sofrimento eterno de quem viu a finitude da vida levar o filho. Para Ruschel, a alegria e o assombro de que é possível ter duas vidas.
Abel voltou a trabalhar dias depois. Para não sofrer? Para sofrer menos? Para tentar esquecer? Ou, para trabalhar, como trabalhou a vida toda, cumprindo suas obrigações. Muito mais do que isso. Abel nunca foi apenas um cumpridor, um funcionário exemplar. Ele é vulcânico, ele é paixão, ele é chorão. Abel já era amado antes de sofrer. Era amado por, além de futebol, espalhar amor pelos clubes que dirigiu e pelo futebol.
Ruschel voltou a trabalhar 252 dias depois de driblar a morte, depois de ter uma nova chance, depois de desafiar a lei das probabilidades, depois de assombrar o mundo, sei lá, cada um tem sua explicação. Voltou a trabalhar em um palco onde nunca estaria, não fosse o acidente. Difícil manter o ritmo em um jogo assim. Correu demais, foi meia, deu carrinho, trocou camisa com Messi.
Abel, o homem que perdeu o filho, celebra a vida a cada novo jogo.
Ruschel, o jovem que viveu, talvez para ter um filho, celebra a vida a cada jogo.
Que Abel supere, na medida do possível, a impossibilidade de esquecer o sofrimento.
Que Ruschel supere as lembranças e seja feliz, mais do que em sua vida anterior.
Sobre o Autor
Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.