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Copinha pode ser o resgate da miséria

Menon

02/01/2018 05h51

Charge de Paulo Batista

Começa a Copinha. São 128 clubes inscritos, divididos em 32 grupos espalhados pelo estado. Muitos deles são bancados por empresários, sem nenhum compromisso com o futebol, a não ser faturar e faturar e faturar. Por isto, sempre fui contra o inchaço, que tem mais a ver com lucro do que com o aprimoramento técnico da competição.

Mudei de ideia.

Mudei por causa de Valdivia, que disputou a competição há alguns anos. Defendia o Rondonópolis, totalmente desconhecido, do Mato Grosso. Jogou bem e conseguiu uma vaga no Internacional. Foi bem, teve sucesso e agora está no Galo, ainda devendo futebol. O que seria de Valdivia se não fosse a Copinha? Possivelmente ainda estaria em Rondonópolis, sonhando com o futuro que não viria.

É um caso que justifica o inchaço. Mesmo que seja o único. É o pensamento inverso em relação à pena de morte. Se houve apenas uma injustiça, se apenas um inocente perdeu a vida, então já está injustificada a sua existência.

Em um país tão pobre, com tanta injustiça, a bola de 454 gramas pode ser o salvo conduto, a senha para que a miséria fique lá atrás. O garoto tem ali uma chance na vida de atuar em três partidas e chamar a atenção de alguém que lhe dê um contrato. O que acontece depois geralmente é a transformação do garoto pobre em garoto rico. O único que muda é a conta bancária e o estilo de vida. A pobreza dá lugar à ostentação.

A mudança quase nunca vem acompanhada de uma percepção clara do que aconteceu. O sobrevivente tem pouca empatia com o ex-colega que não conseguiu romper a barreira. Muda de lado e não ajuda ninguém. A não ser naqueles jogos de confraternização de final de ano em que se arrecadam toneladas de alimentos.  Importante, é lógico, mas seria muito mais bacana se a pessoa entendesse que os que continuaram pobre não têm culpa de nada. A não ser de não terem tido a sorte que ele teve,

A culpa?

A culpa é dos homens que governam o país e que fazem da manutenção da miséria uma fonte enorme de votos.

A Copinha tornou-se menos importante porque a necessidade de suprir, com carne nova, o sistema futebolístico, torna mais rápida a ascensão do garoto. Jovens como Brenner, Paulinho, Lincoln e Vinícius Jr poderiam estar jogando, mas já foram "subidos" para o time principal. Vinícius Jr. já é do Real Madrid.

Mesmo assim, há gente boa a ser vista. Vitão, Alanzinho, Helinho, Igor, Fabrício Oya, Rodrygo e outros que irei descobrir durante a competição.

Para nós, além de trabalho é uma boa diversão. Para eles, muitos deles, é a chance de conseguir trabalho. De trocar o feijão com farinha por uma dieta balanceada, o busão por um carro importado e a namorada atual por alguma loira turbinada. E a mesadinha atual por um grande salário em euros.

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Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.


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