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A mente livre de Ricky Ribeiro

Menon

25/04/2018 06h14

 
Luiz Henrique da Cruz Ribeiro, o Ricky, é um cidadão do mundo. Conhece Paris, a Noruega, Canadá, Cleveland e muitas outras. Entre elas, São Paulo, onde cursou Administração Pública na Fundação Getúlio Vargas e Barcelona, onde fez Mestrado em Sustentabilidade pela Universidade Politécnica da Catalunha e MBA pela Universidade da Barcelona. E conhece a nossa querida Aguaí, também.

Passava férias no sítio os tios Fábio e Ines Grillo. Ali, brincava com o primo Rodrigo, andava a cavalo e, com certeza, jogava futebol. O esporte sempre esteve presente na vida de Ricky. Até que em 2008, sofreu uma queda caminhando. E percebeu que não conseguia mais jogar bola com bom rendimento. Cansava-se e ia para o gol. E começou a perder seguidamente partidas de tênis para a namorada Júlia.

Tinha 28 anos.

Era muito mais grave do que pensou no início.

Era ELA.

Esclersose lateral amiotrófica, doença degenerativa. Perdeu todos os movimentos do corpo. Nos últimos cinco anos só deixo o apartamento para ver um jogo da Copa do Mundo na Arena Corinthians. Hoje, trabalha e se comunica por meio de um visor ótico.

Sim, Ricky continua trabalhando. Toda sua dedicação é ao portal Mobilize Brasil (www.mobilize.org.br), que criou para tratar de problemas de acessibilidade e sustentabilidade, temas que ainda não merecem muito crédito no Brasil.

Ele me procurou através de minha página no facebook. E me enviou, o livro Movido pela Mente, em parceria com Gisele Mirabai. O livro pode ser adquirido pelo portal.

É uma pancada nos conformistas. É uma lição de vida. Ricky lutou contra as limitações e não permitiu que a sua mente ficasse apenas aprisionada em um corpo sem movimentos. Ela vive viaja e é poderosa. De certa forma, a doença não o venceu.

Ele explica melhor neste trecho:

"Após o diagnóstico, a doença evoluía cada vez mais rápido, limitando os movimentos dos meus membros inferiores e também dos superiores. Além das atividades físicas, da fisioterapia e dos tratamentos, não havia muito o que eu pudesse fazer, a não ser encarar a realidade da melhor forma possível. O limite a ser ultrapassado a partir de então não era uma calçada esburacada da cidade, mas a imobilidade do meu próprio corpo. Por isso mesmo, o pensamento positivo, impulsionado pela determinação de viver bem cada minuto que me restasse, seria o meu principal meio de transporte. Agora, eu precisava ser movido não mais pela força das minhas pernas, mas pela força da minha mente",

A cada página que lia, minha admiração pelo Ricky, pela mente do Ricky, aumentava. E eu me comparava a ele. Qual teria sido minha reação? Sei exatamente. Me transformaria cada vez mais em alguém irritadiço e sem nenhuma capacidade de empatia. Não pensaria nos outros, na família, na companheira. Meu egoísmo faria com que fosse cada vez mais um peso morto. Mente livre? Isso é para o Ricky.

A doença não tem cura, mas o que o Poder Público faz a favor de pessoas com deficiências de locomoção. Aqui em São Paulo, as calçadas são um convite à queda. Convite? Quase uma intimação. Eu caí várias vezes. Pé no buraco e corpo no chão. Em uma delas, em frente de casa, aterrissei com as mãos impedindo a queda. O manguito rotador do ombro direito foi afetado. Já são sete anos na fisioterapia. Um modo de evitar a operação.

Meu caso é simples. Descuido. Sobrepeso. Melhorou muito quando passei a usar tênis com palmilha e com salto. Mas e as outras pessoas? Quantos cadeirantes sentem dificuldades em visitar o prédio de um amigo? Se não houver rampa, é necessário a ajuda de alguém para um movimento simples.

Pouco se faz pelos cidadãos com deficiência de locomoção. Na realidade, pouco se faz pelos cidadãos. Os prefeitos agora querem ser conhecidos como gestores. Gestor é bom para uma empresa qualquer. Para conseguir mais lucro. O representante da população precisa cuidar da população, precisa fazer da cidade algo coletivo, algo que se ame e que se tenha vontade de cuidar.

Cidade não é para dar lucro, não é para ser privatizada.

Como os gestores nada fazem para humanizar as cidades, fica o exemplo maravilhoso do nosso quase aguaiano Ricky Ribeiro.

E pingue-se o ponto.

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Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.


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