Porque não torço para a seleção
Menon
14/05/2018 22h47
Está dada a saída para a Copa. Tite anuncia a lista da Copa à tarde e, horas depois, vai à bancada do JN. Tão normal, tão sem surpresas quanto a lista de Tite.
Todos vão. É necessário o aval de quem manda. A benção. Até Dilma e Lula foram. Visitaram o dragão da caverna. Inocentes ou oportunistas, visitando quem sempre quis devorá-los.
Bem, está feita a parceria, sob o comando de Galvão Bueno. E tome mãe de jogador, e tome rua pintada e tome musiquinha e tome corrente prá frente..
Sou fanático por futebol brasileiro. Em coberturas internacionais, vi como ele é amado e respeitado. Como é um representante do País, uma referência cultural.
Adoro um drible de Garrincha, como uma curva de Niemeyer.
Então, porque não consigo torcer pela seleção?
Na verdade, não consigo superar o futebol da seleção.
Pela parceria com a Globo. Pela camisa amarela, que virou uniforme de golpistas.
Pelo fato de a seleção ter donos. Era de Ronaldo, Ronaldinho e Roberto Carlos, reis da noite. Passou a ser de Kaká e Lúcio, os reis da reza.
Agora, é de Neymar e seus amigos. De Gil Cebola a Daniel Alves, que nem vai.
Detesto a família Scolari. Felipão tentando provar que as reclamações pelo pênalti em Fred, inexistente, eram uma conspiração internacional.
Vou confessar: se eu fosse cobrir a seleção, acabaria seduzido. Difícil não torcer por quem está ao seu lado. Foi assim em 94, 2002 e 2006. Mas, mesmo torcendo, me maravilhoso com o baile de Zidane, que causou nossa eliminação.
Tite é um ótimo treinador, mas não esqueço seu beijo em Marco Polo. O último representante de uma dinastia corrupta que vem com Havelange, Nabi, Teixeira e Marin…
Erro meu? Pode ser, mas não consigo separar CBF do futebol brasileiro. Como se a camiseta fosse de Aécio. E Neymar pediu voto para Aécio. A pedido do Fenômeno.
Também me irrita a overdose. Vou só cinema e…lá está o Tite com sua voz de pastor vendendo tudo.
Tite, encantador de serpentes. Ninguém o questiona. Se Jesus Cristo convocasse William José seria criticado. Com Tite, não. Escrevem teses para defender o treinador.
Há a criação do fato consumado. Globo, corrente prá frente, a tia Gertrudes gritando na frente da televisão, os estratosféricos juros do cartão de crédito do banco do Tite, os patos na Paulista…
O racional seria separar uma coisa da outra e abraçar o futebol brasileiro, que tanto amo.
Sim. Mas, torcer por Neymar, uma mala que não respeita adversário, que não sabe ganhar e nem perder?
Evidentemente, sei que tudo que tem por aqui, talvez tenha também em todas as outras seleções. Tudo bem, mas eu não sou uruguaio, seleção que me seduz.
Ah, esqueci do Galvão tentando me fazer odiar a Argentina…
É muita breguice. Muita pressão.
Vou ver todos os jogos. Os 64. Mas não terei prazer em ver a seleção. Eu, que chorei de alegria em 70 e de tristeza em 82, não gosto mais da seleção global. Exceção a um ou outro, como Jesus e Marcelo.
Sobre o Autor
Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.