No banco, Salah sofre como um ugandês
Menon
15/06/2018 12h35
Existe a expressão "aqui se faz, aqui se paga", em Uganda?
A imagem de um desolado Mohamed Salah, após o gol de Gimenez, causou comoção em todo o mundo. Talvez até no Uruguai, apesar da festa pela vitória celeste. Mas, em um lugar do planeta, deve ter despertado instintos nada cristãos. Em Kampala e em toda Uganda, certamente alguém viu na tristeza de Salah a cereja no bolo de sua própria alegria. Em Brazavile e no Congo, também.
Os congoleses sofreram com Salah em campo o mesmo que Salah, no banco, sofreu com Gimenez.
Os ugandeses, fora do campo, em suas casas, acompanhando pelo rádio ou televisão.
Foi em 8 de outubro, na última rodada do grupo E das eliminatórias africanas. O Egito liderava, com nove pontos. No dia anterior, Uganda havia empatado com Gana e chegado a sete pontos.
O Egito, jogando em casa, precisava vencer o Congo, para chegar a 12 pontos e garantir a vaga. E Salah fez o primeiro gol, aos 18 minutos do segundo tempo. O Congo empatou aos 42 minutos e a classificação, que estava garantida, dependeria ainda da última rodada, quando o Egito visitaria Gana e Uganda, com chances, visitaria o Congo, rabeira.
Salah fez valer, então todo o seu peso de melhor do time, melhor da África e um dos melhores do mundo. Pediu apoio da torcida, que saiu do choque para uma participação efetiva. E, aos 50 minutos, marcou, de pênalti, o gol da vitória. O Egito voltou ao Mundial, depois de 28 anos e os ugandeses viram suas chances acabarem.
Agora, o gol de Gimenez veio aos 44 minutos. Para tristeza de Salah e de seus admiradores no mundo todo. E para alegria de ugandeses e congoleses que vestiram no corpo ou na alma, a celeste olímpica.
Afinal, parafraseando um político brasileiro, o futebol desperta os piores instintos.
Sobre o Autor
Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.