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Pio, sofrido operário da bola, é o craque da rodada

Menon

07/11/2018 14h57

Francisco Hércules de Araújo é nome apropriado para embaixador. Ministro, talvez. Um ortopedista, pediatra ou oncologista com um nome imponente assim traria uma boa dose de confiança ao paciente. "Estou me sentindo mal há meses, mas confio muito no dr. Francisco Hércules". Ou, "agora, sim, o Brasil está em boas mãos. Com Francisco Hércules, a nossa diplomacia vai caminhar de maneira correta e o Brasil será ouvido no mundo".

Realmente, para mim é difícil imaginar o nome Francisco Hércules sem um penduricalho antes: doutor, professor, juiz de direito, general, algo assim que o diferencie de outras pessoas nesse nosso Brasil de castas sociais bem definidas.

Você imagina um Francisco Hércules como lateral-direito que também joga como volante e quebra um galho lá na frente, porque tem um chute muito forte. Difícil, não é. Mas existe sim. É o Pio.

O Pio do CSA. Que começou no Icasa em 2007 e rodou por Treze, ABC, Monte Azul, Guaratinguetá, Monte Azul de novo Gil Vicente, outra vez Monte Azul, Mirassol, Botafogo da Paraíba, Fortaleza, Linense, Ceará e que, após ser dispensado por Lisca Doido, chegou ao CSA em agosto, na fase final da Série B. Em sua apresentação, disse que estava pronto a ajudar o CSA a chegar à Série A.

Pio é assim. Um operário da bola. Um eterno coadjuvante. Sempre pronto a ajudar.

Mesmo quando estar em campo significa uma dor imensa. Uma dor mental, uma dor na alma, uma dor vinda da separação definitiva. O irmão de Pio morreu no dia do jogo entre CSA e Fortaleza. Ele praticamente deixou o velório para se apresentar ao treinador Marcelo Cabo que o deixou livre para não jogar. Pio disse que estava pronto.

E entrou aos 32 minutos do primeiro tempo quando Didira, destaque do time, se machucou. Ajoelhou-se à beira do gramado, levantou os braços para o alto e certamente pensou no irmão. Se for crente, o imaginou ao lado de algum outro ente querido. Jogou sem amarras emocionais que impedissem uma jogada ou outra e muita dedicação.

Então, aos 35 do segundo tempo, o escanteio. Pio foi para a cobrança forte, com o pé direito, do lado esquerdo do ataque. Bola alta e forte, Jhon Cley desviou e, do outro lado, Hugo Cabral, de peito, empatou o jogo. Água no chopp do Fortaleza. Nova esperança para o CSA. O time está em segundo lugar e pode até ser campeão, se ganhar as três últimas e o Fortaleza fizer apenas um ponto.

Impossível, futebolisticamente falando. Uma probabilidade pequena no reino da Matemática. Mas o grãozinho de areia de Pio está lá, na história do CSA. Pio, o cara que cobrou um escanteio emocionado, com lágrimas nos olhos, desesperado pela morte do irmão. Não foi assim? Ora, vai dizer que não foi assim para as futuras gerações de torcedores do CSA. Será essa a história que será contada por pais e filhos e netos a partir de agora.

O CSA tem tudo para subir. E eu torço para que Pio seja mantido no elenco. E que o operário da bola, aos 31 anos, jogue novamente a Série A. Com futebol operário e nome de quem usa paletó de altíssima griffe.

Francisco Hércules de Araújo, o sofrido Pio, é o craque da rodada. De todas as rodadas.

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Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.


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