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Brasil sub-20 está 65 anos atrasado

Menon

12/02/2019 13h21

Há 20 anos, fui cobrir um jogo do Corinthians em Brasília. Aproveitei para uma entrevista com Nilton Santos, a Enciclopédia, um dos maiores laterais da história do futebol mundial.

Ele me recebeu em sua casa e foi de uma amabilidade emocionante. Hoje, se quiser falar com algum jogador iniciante, preciso marcar com assessor.

Nilton, enrre outras coisas, contou que na Copa de 54, antes do jogo contra a Hungria, alguns dirigentes fizeram um discurso bélico. "É preciso vingar os nossos mortos de Pistoia", disseram, referindo-se aos soldados brasileiros que morreram na Segunda Guerra Mundial, combatendo em Pistoia, na Itália.

Ignorância maior, impossível. Afinal, os húngaros também combateram o nazismo e o fascismo, como os brasileiros. Estavam do mesmo lado.

Agora, em Rancágua, no Chile, a ignorância se repete.

Os repórteres Raphael Zarko e Thiago Crespo, do Globoesporte, contam que, na preleção antes do último jogo – o Brasil precisava ganhar por 3 x 0 para não ser eliminado – os jogadores ouviram um discurso totalmente anacrônico de William de Castro, preparador de goleiros.

"O sonho desses meninos que morreram era estar aqui, que nem vocês estão", disse, referindo-se às vítimas do incêndio no Ninho do Urubu.

Que gênio, não? O time está muito mal, passando vexame e a salvação é transformar aqueles jogadores jovens em responsáveis por resgatar os sonhos queimados de outras crianças.

Branco, coordenador agregado recentemente só grupo escolhido por Carlos Amadeu, teve atitudes conflitantes, ainda segundo os repórteres Zarko e Crespo. Chamou os jogadores de frouxos, deu um murro no "campinho" do treinador, levou a turma para o churrasco, sentou no banco de reservas e, após uma derrota, foi para o hotel sem falar com ninguém.

Com dirigentes assim, com preparadores assim, haverá salvação para o futebol brasileiro?

Quatro anos depois do blablablá sobre Pistoia, Nilton Santos foi campeão do mundo. Não sei se teremos nova redenção.

 

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Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.


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