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Sampaoli, Mattos, Macron, Juanfran, Bolsonaro e a construção da narrativa

Menon

26/08/2019 14h22

Há uma lenda no jornalismo.

O editor chama um redator e pede um editorial sobre Deus. A favor ou contra, pergunta o editorialista.

Mostra a importância da narrativa. Ela, quando bem construída, conquista corações e mentes. É importante para tomada de decisões futuras e para respaldar as já tomadas.

Hoje, vivemos uma dura disputa de narrativas.

Emanuel Macron, presidente da França, tenta caracterizar Jair Bolsonaro, presidente do Brasil, como uma ameaça à Amazônia.

Jair Bolsonaro, presidente do Brasil, tenta caracterizar Emanuel Macron, presidente da França, como um colonialista que não respeita a autonomia brasileira.

É do que se trata, muito acima de bobagens rastaqueras do tipo minha mulher é mais bonita que a sua…

A construção de narrativas está presente no futebol também. É lógico.

Jorge Sampaoli é um ótimo treinador. Acima da média. O Santos não estaria onde está se não fosse ele. Jorge Sampaoli é "incriticável".

Muita coisa acima está correta. Mas é preciso dizer que Sampaoli, além de Jean Motta e de Aguillar, também é culpado pelo empate por 3 x 3 com o Fortaleza na Vila após estar vencendo por 3 x 0.

É preciso dizer que, com Argel Fucks no comando, o Santos venceria. Explicando melhor: se Sampaoli passasse mal no intervalo e Argel assumisse, a vitória teria sido mantida.

É evidente que, com Argel, o Santos não estaria onde está. É evidente que não há comparação entre os dois, mas é evidente também que Carlos Sánchez não deveria estar no banco.

Se Sampaoli é gênio, os gênios também erram.

E Alexandre Mattos? Uma torcida carente, o recebeu como ídolo após a contratação de Dudu. E com grandes acertos como a manutenção do próprio Dudu e Bruno Henrique, resistindo aos chineses.

Mas, o blogueiro chato levanta o dedo e pede a palavra, e Carlos Eduardo, e Felipe Pires, e Fabiano, e Goulart?

Me desculpem os palmeirenses alexandrinos, mas mito é o Da Guia.

Um outro exemplo de construção de narrativas. Em 2016, o São Paulo quase caiu. No início de 2017, o clube veio com uma campanha chamada #abasevemforte. Muito legal, só que a safra era fraca. Rony, Paulo Henrique, Pedro Augusto, Paulinho Boia e outros. Nada deu certo.

Agora, temos duas narrativas em construção. A primeira diz que o Fluminense vai melhorar com Oswaldo. E que melhoraria de qualquer jeito com Fernando Diniz. Baseado nas chances criadas, que passariam a se transformar em gols de uma hora para outra e se esquecendo da fragilidade defensiva.

A segunda é sobre Juanfran. Potencialmente, a meu ver, ótima contratação. Jogador de sucesso na Europa e com potencial de marketing.

Mas o que temos é a confirmação reiteradas vezes de que ele vai somar no vestiário, que ele é um diferenciado porque tenta falar português, que é um jogador tático, que é uma raridade, que é um grande acerto.

Pode ser tudo isso, mas e se não jogar bem? Será louvado assim mesmo, afinal é um agregador, um tático, um gentleman? Ou será esquecido? Depende de qual discurso vencer.

Eu não ligo a mínima para as qualidades extra-campo de Juanfran. São importantes, mas secundárias. O importante é jogar bem e acredito que ele tem futebol para mostrar. Já mostrou, aliás, na estreia.

Espero pela realidade. Discursos de narrativa não são minha praia.

 

 

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Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.


Menon