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Menon

Vida de setorista

Menon

07/12/2018 15h46

Comecei a trabalhar como jornalista em 4 de maio de 1988. Desde então, com breve interrupção e até 2010, fui setorista. Setorista é aquela atividade que Juninho Pernambucano, a quem admiro muito, considera como a base da pirâmide evolutiva do jornalismo esportivo. Opinião dele. Para mim, o setorista faz o mais importante para o leitor. Ele quer saber como seu time treinou, como vai jogar no domingo, quem está bem, quem está mal, quem está sendo contratado ou saindo.

Depois, com todas essas informações coletadas, os comentaristas vão decretar o que está certo ou errado. O que deve ser feito e o que deve ser eliminado. Bem, quem acha que a vida de setorista é fácil, que tente escrever uma página diariamente no Agora, Jornal da Tarde ou Diário Popular.

A ida diária ao clube faz com que haja contato com outros colegas. Cria-se uma rivalidade legal e honesta. Olho para trás e me lembro de muita gente com quem convivi como setorista no São Paulo e no Corinthians. Nunca tive a honra de trabalhar no Palmeiras.

Tuca, de óculos, ao lado de Leão

Tuca Pereira de Queiróz era mais velho que os outros repórteres. Ele estava de volta às redações após anos cuidando de sua fazendo no Mato Grosso. Era do tempo antigo, muito amigo de Leão e de Cabralzinho. Contam que, nos anos 70, tinha um fusca verde que emprestou para Pelé sair com algumas garotas. Eram outros tempos e Tuca não se adaptou muito, ele sempre se lembrava das resenhas com os jogadores, algo que existia cada vez menos. Não gostava de muita competição entre jornalistas. Quando tinha uma notícia exclusiva, contava. Nem todas, é lógico.

Em 1998, Raí voltou ao São Paulo na semana da decisão do campeonato. O São Paulo tinha perdido a primeira por 2 x 1 para o Corinthians e precisava vencer por qualquer contagem. A grande dúvida é se Nelsinho Baptista escalaria ou não o craque.

Não consegui cravar nada, Tuquinha. Ninguém me confirma.

Vai jogar, Menon. Vai jogar. Eu garanto. Pode escrever.

Procurei novas informações e cravei.

Raí joga domingo.

No domingo, corri até a banca para ver o Lance!, jornal em que eu trabalhava.

E a manchete lá estava.

Raí joga domingo?

Sim, amigos. Com um enorme ponto de interrogação. O gênio da redação, que achava setorista uma atividade medíocre, não teve coragem de assumir o furo. Ficou, o furo, com Tuca, no Estadão.

Um mês depois, o coração matou Tuca, que estava pronto para cobrir a Copa do Mundo da França.

De jornal, me lembro de Luiz Ademar, Arnaldo Ribeiro, Fernando Galvão, Cosme Rímoli, Prosperi, Marcelo Tieppo, Fábio Hécico, Artur de Almeida e muitos outros. Vinícius Mesquita, Aceita, Guto Mônaco, Maurício Noriega, Gibinha…

O meu amigo mais longevo de setorismo é o Eduardo Affonso, atualmente na ESPN. Enquanto eu troquei de jornal várias vezes (na verdade, fui trocado) ele sempre esteve com a Rádio Bandeirantes. Torcedor fanático da Portuguesa, Edu e eu brincávamos de negociações. "Se você quiser o Bentinho, me dá o Fábio Aurélio", ele dizia. Edu formou dupla com Leandro Quesada por muito tempo. Foi injustiçado por não ir à Copa do Mundo. Quando teve convite da Rádio ESPN aceitou na hora e dali foi para a televisão.

Convivi com muita gente de rádio: Sérgio Orindi, Dirceu Cabral, Marcello Lima, Márcio Spímpolo, Romeu César, Zé Calil, Carlos Lima e outros. E Ligeirinho, é lógico. Ligeirinho, o improvável. Mais velho, pequenino, errava algumas palavras, mas era um trabalhador incansável.

AQUI, EU CONTO COMO ELE FUROU TODOS NÓS E ENTREVISTOU ROMÁRIO

O Lance! surgiu em 97 e revelou muita gente boa. Só gente boa. No São Paulo, convivi com Cláudius Pitta e Páulo Fávero. No Corinthians, com Chico Silva. Todos eram focas e foram crescendo muito na profissão.

Como Maurício Oliveira, grande produtor da Globo e Giovani Martinelli, um dos donos do ótimo DIÁRIO DO PEIXE. Trabalhei também contra o Zé Gonzalez, que cobriu o Mundial de 2005 no Japão. Na viagem, usou um chinelo estranho. O nome era papete. Fiquei zoando com ele, importunando. Depois, no extinto Orkut, escrever umas coisas bonitas a meu respeito e prometeu uma papete. Até hoje, nada.

Mas difícil mesmo foi enfrentar a dupla Alexandre Lozetti e Sergio Gandolphi. Muito amigos, tinham uma diferença de 30 centímetros de altura. Sabe aquela história do cobertor curto? Se você puxa para o alto, passa frio nos pés. Se estica, passa frio na cabeça. Era assim com eles. Se conseguia marcar o grandão, o baixinho fazia o gol. Se anulava o baixinho, o grandão me furava.

Foi muito bom. Aprendi com muita gente. E dei 1687 furos, todos anotados no meu caderninho.

Só que não.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.