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Esporte Interativo e a tática de guerrilha

Menon

23/03/2016 06h13

Enfrentar a Globo em uma negociação é muito duro. Em uma negociação envolvendo futebol é mais duro ainda. Os clubes devem muito à Globo. Dinheiro, evidentemente. Apenas dinheiro. Eles são os protagonistas, eles são o depositário da paixão popular. Infelizmente, pela indigência de seus presidentes e dirigentes, estão sempre em uma situação de quase mendicância na hora de conversar com a TV Globo. Quem deve – e deve muito – tem pouco  o que negociar.

A Record sentiu a barra e desistiu. Agora, é a vez do Esporte Interativo. Continua difícil, mesmo com o enorme potencial financeiro da Turner, parceira no negócio. Mesmo assim, 15 clubes assinaram com o EI. Ou seja, 15 clubes viraram as costas para a Globo. São Atlético-PR, Coritiba, Internacional, Santos, Santa Cruz, Figueirense, Ponte Preta, Bahia, Ceará, Sampaio Correa, Criciúma, Joinville, Paysandu, Paraná e Fortaleza.

Um amigo que conhece muito dos segredos das negociações, me contou que a tática é de guerrilha. O Esporte Interativo fez nos últimos anos um trabalho muito bem feito com a Copa do Nordeste, que carinhosamente chamou de "Lampions League". É fácil imaginar como é bom para a autoestima de um torcedor nordestino ver a final da Copa do Nordeste com Ceará e Bahia sendo comentada por Zico, um herói nacional.

E não é só Zico. É o pré jogo, é o pós jogo o tratamento dado ao jogo e é, principalmente, o dinheiro pago. Um dinheiro que fez uma boa diferença para as equipes do Nordeste. Por isso, e não só por isso, cinco equipes nordestinas e mais o Paysandu, do Norte, assinaram. A Liga dos Campeões é destaque do portfólio do EI. Seus negociadores mostram todo o trabalho feito, todas as horas de gravação para os possíveis clientes.

E mostram muito mais. Mostram como a concorrente não tem feito um trabalho do mesmo nível, pelo menos quantitativamente falando. Argumentam que o pré jogo é pequeno, que após o jogo há poucas entrevistas e que há campeonatos comprados com poucos jogos mostrados.

E há muito dinheiro, é lógico. Foi oferecido um total de R$ 550 milhões para um total de 20 clubes. Um valor proporcional ao número de clubes que assinarem com o EI. Muito mais que o Sportv.

Não se sabe quem ganhará a guerra. Não se sabe se haverá confronto ou acordo. Mas o que se sabe, sem dúvida, é que quem assinou com o EI ganhou mais do que se assinasse com o Sportv. E que quem não assinou, ganhou mais do que ganharia do Sportv se não houvesse a concorrência. Guerrilheira concorrência.

 

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Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.