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Queda da Bastilha, fim de ilusão e derrubada de mitos. Quarta-feira SPFC

Menon

07/07/2016 14h30

bASTILHAO São Paulo caiu na Libertadores. O último argumento para justificar erros terríveis de planejamento e o mau futebol apresentado durante todo o ano, não existe mais. Caiu a Bastilha, caíram os mitos.

Edgardo Bauza chegou ao São Paulo com um currículo impressionante e inquestionável. Duas Libertadores, com times que não eram favoritos e alguns títulos em pontos corridos. Duas Libertadores, justamente o título com que o são-paulino sonho todos os dias do ano há mais de uma década.

Por isso, Bauza ganhou da torcida um bônus que nenhum outro treinador tinha. Como é especialista em Libertadores, vai ser cobrado apenas pelo que faz na Libertadores. Uma confiança cega, mas apropriada para relações messiânicas (nada a ver com Lionel) do que futebolísticas.

Bauza podia tudo. Afinal, o São Paulo era o único brasileiro sobrevivente na Libertadores. Se o time perdia todas fora, logo vinha o aviso: o estilo do Bauza é esse mesmo, foi campeão assim. Ora, o que é um erro, passou a ser um mérito. Ganhou assim? Se não fosse assim, ganharia mais facilmente.

A derrota para o Nacional foi a queda da Bastilha. O que restava no semestre, já se foi. Agora, Bauza pode ser questionado e analisado como um treinador e não como Moisés vindo do Monte Sinais com dez mandamentos a serem seguidos. Ele não pode ser tratado com xenofobia por ser estrangeiro. E nem com condescendência exagerada

Eu havia analisado esse tema há pouco tempo, não falo agora por oportunismo. Está aqui: Libertadores basta

Agora, Bauza pode ser analisado pelo que o São Paulo mostrou durante o ano. Defeitos que já deveriam ter sido sanados, como, por exemplo, a enorme dificuldade em fazer gols. Contusões, expulsões e defecções não podem justificar o fato de o São Paulo ter o segundo pior ataque do campeonato. LEIA AQUI O time não consegue ganhar duas seguidas, não tem uma postura agressiva em campo… Comparemos com Dorival Jr, por exemplo.

Bauza, enquanto mito, está destruído. Desmitificado. E, diga-se, ele nunca disse que era um mito. Apenas, foi tratado assim por uma torcida ansiosa pelo título que mais gosta. Bauza é bom técnico e tem pela frente um trabalho muito maior do que vencer a Libertadores. Precisa tratar da reconstrução do time.

 

Após 13 rodadas, o São Paulo está a dez pontos do líder. É uma situação terrível, que os diretores tentaram evitar. Uma situação que eu apontei ainda na sexta rodada, quando a diferença era bem menor. Aqui está o texto: Situação grave

Outro mito que sai arranhado na quarta-feira e o tal planejamento tricolor. Nem falo da questão histórica, já deslustrada desde que Juvenal Juvêncio desistiu de entrar na história como um grande presidente para tentar faze-lo como um déspota com prorrogação de mandato.

Todos se lembram da derrocada. O clube chegou a estar nas mãos de um desqualificado ético fazendo de tudo para satisfazer suas necessidades com um amor de outono irrigado por rapinagem.

Falo mesmo de 2016. Sem dinheiro, o clube começou a apostar em soluções criativas. Deram certo e houve contratações a preço zero, como Mena, Lugano e Calleri.

A aposta no remédio degringolou com Maicon, uma contratação certa que começou de forma errada e comprometedora.

O São Paulo procurava um zagueiro. Falava-se em Torsiglieri, do Morellia, e Gentiletti, da Lazio. Então, com a janela quase fechada, apareceu o nome de Maicon, que havia brigado com o Porto. De graça, viria. E veio. Por pouco tempo, antes do final da Libertadores. O São Paulo aceitou. Para não gastar, correu o risco de ficar sem o reforço justamente quando ele mais seria necessário. Talvez não acreditassem no futuro do time na Libertadores.

E Maicon jogou muito. E o São Paulo se viu na obrigação de contrata-lo. Fez bem. Mas, e, se lá atrás tivesse contratado um zagueiro já com contrato de três ou quatro anos. Tudo teria sido evitado.

Bauza seguidamente falou em reforços. Em março, à uma rádio argentina, disse que a intenção era chegar a julho e então conseguir reforços para qualificar o time.

O que significava chegar a julho?

Superar as dificuldades do péssimo início na Libertadores, ter novos jogadores, conseguir a classificação e  montar um time mais forte, aproveitando-se do recesso que viria.

O que se prometeu, não foi cumprido. O São Paulo perdeu Kieza e Rogério e teve apenas Ytalo como reposição. Ytalo, o menor destaque do Audax. Teve 45 dias para resolver a questão imediata de reforços e preferiu apostar no longo prazo, com a vinda de Cueva, que só pode jogar o Brasileiro.

Eu já havia tocado nesse assunto aqui: Mau planejamento

Outro mito foi destruído no Morumbi: o tal "futebol de Libertadores" , um amontoado de clichês futebolísticos: coração nno bico da chuteira, Libertadores é assim mesmo, quem quer espetáculo, que vá ao Municipal, na minha casa, mando eu, tem que ralar a bunda no chão, blablabla

Estar comprometido com o clube, entrar em campo para dar um pouco mais do que se pode é fundamental no futebol. Ídolos são construídos assim: luganos, chicões, galeanos, rondinellis, basílios, mas nada supera o futebol bem jogado. Supera, sim, me penitencio, há muitos exemplos.

Mas o que não se pode cultuar é a dicotomia jogar bonito x ganhar títulos.

Este é o grande erro. O Nacional veio jogar bola. E mostrou muito bom futebol. Time bem posicionado, toque de bola, infiltrações, deslocamentos, dribles, tudo o que se pode esperar de um grande time.

O São Paulo dominou parte do jogo, mas muito mais baseado em vontade do que bola.

E quando Maicon foi juvenil, possibilitando que o árbitro fosse rigoroso e permitindo as substituições erradas (a meu ver) de Bauza, tudo desmoronou.

Prevaleceu o futebol.

O São Paulo foi o melhor brasileiro na Libertadores. Eliminou o Galo em confronto direto. Não roubou, não foi violento e tudo isso deve ser levado em conta. Agora, precisa ser reconstruído. Uma vez mais. Rotina nos últimos anos.

 

 

 

 

 

 

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.